O impetigo é uma infecção
cutânea que ocorre frequentemente na infância, pode ser causada pelo Staphylococcus
aureus, Streptococcus
pyogenes ou ambos. A transmissão ocorre por contato
direto com o microrganismo, podendo ser passada facilmente de pessoa a pessoa,
o que o torna um problema de saúde pública, principalmente nas escolas
onde acomete crianças, em idade pré-escolar e escolar, devido a convivência em
aglomerações e em ambientes com má higiene. Existem duas formas de apresentação
do impetigo, a forma bolhosa e não bolhosa. A forma bolhosa é importante, pois
tem como diagnóstico diferencial as doenças bolhosas da infância, como pênfigo
vulgar, dermatite herpetiforme, e também doenças como eritema polimorfo e
síndrome da pele escaldada estafilocócica, as causadas nesta forma da doença
são vesiculares superficiais solitárias que rapidamente aumentam de tamanho e
formam bolhas friáveis com líquido amarelo que pode tornar turvo e purulento,
quando rompem forma-se uma base eritematosa onde posteriormente se forma
crosta, é mais frequente em recém nascidos. Em contrapartida a forma não
bolhosa predomina na face e membros e caracteriza-se por uma lesão inicial
superficial máculo-papular eritematosa, que evolui rapidamente para vesícula e
pústula, com posterior formação de crosta melicérica. Pode também ser
pruriginoso, tendo como uma de suas principais características o fato de ser
habitualmente indolor e sem repercussão sistémica. Essa infecção predomina em
climas quentes e úmidos (verão), higiene precária, ambientes fechados e meios
econômicos desfavorecidos
Definições
Impetigo é uma infecção cutânea, altamente
contagiosa, causada por duas bactérias diferentes: o Staphylococus aureus,que podem formar colônias na pele e narinas de
pessoa saudáveis, e o Streptococus
pyogenes ,que habita normalmente nossa pele, boca e trato respiratório
superior. De maneira geral, essas bactérias não fazem mal algum ao hospedeiro,
no entanto, uma queda no sistema de defesa do organismo, um ferimento
superficial na pele, ou mesmo lesões provocadas por outras doenças de pele
podem servir de porta de entrada para as bactérias. Embora possa acometer
pessoas de qualquer idade, o impetigo é mais comum em crianças entre dois e
seis anos, especialmente nos meses mais quentes e úmidos do ano e em ambientes
com condições de higienes precárias. O contagio pode ocorrer através do contato
direto com as feridas ou com gotículas de secreção nasal de pessoas infectadas
ou, ainda, por objetos contaminados (roupas pessoais e de cama, brinquedos). O
período de incubação varia de quatro a dez dias, fase em que o paciente pode
transmitir a doença, apesar de não apresentar nenhum sinal de infecção.
Tipos
de Impetigo
O impetigo
bolhoso é exclusivamente causado
por Staphylococcus aureus,
associando-se à infecção pelo S. aureus fagótipo II
(normalmente tipo 71) e acontece principalmente no recém-nascido e em crianças
na idade pré-escolar. Ocorre em aproximadamente 10% de todos os casos de
impetigo. As lesões começam
como vesículas que se transformam
em bolhas com conteúdo inicialmente amarelo claro. Geralmente, não
existe eritema perilesional e o sinal de Nikolsky está ausente. As bolhas se
rompem rapidamente e deixam uma superfície vermelha, úmida, com posterior
formação de crostas
finas e acastanhadas. Uma forma
particularmente grave de impetigo bolhoso é a Síndrome da Pele Escaldada
Estafilocócica (SSSS) e outra forma de apresentação menos grave, é a
escarlatina estafilocócica.
O impetigo não bolhoso é classicamente considerado uma infecção por Streptococcus pyogenes (beta hemolítico
do grupo A), dados mais recentes têm demonstrado um papel crescente de Staphylococcus aureus na etiologia do
impetigo não bolhoso. As lesões típicas começam na face, especialmente ao redor
do nariz e da boca, mas que também pode surgir nos membros inferiores, em pele
previamente traumatizada. Inicia-se por uma lesão maculopapular eritematosa que
evolui para vesícula e pústula, que rompem rapidamente, formando crostas
melicéricas de cor de mel com
fundo eritematoso. O prurido é ocasional, não há dor nem repercussões
sistêmicas. Ocorre principalmente em crianças sendo causadas após lesões por
traumas ou por contato direto.
HISTOPATOLOGIA
Segundo
alguns estudos, o patógeno S.aureus
produz uma toxina de hidrolisa uma das adesões moleculares da pele: a
desmogleína-1, presente nos desmossomos dos queratinócito do estrato granular
da epiderme. Nesse sentido, as toxinas do S. aureus são um grande fator de
virulência, causando a dissociação das células da epiderme na formação das
bolhas, sendo elas denominadas toxinas esfoliativas e proteases. Existem pelo
menos dois tipos dessas toxinas, a Toxina Esfoliativa A, que causa o impetigo bolhoso,
e a Toxina Esfoliativa B, responsável pela Síndrome da Pele Escaldada (Síndrome
de Ritter), existe diferenças clínicas e histológicas entre o impetigo não- bulboso
e essa síndrome.
As bactérias estimulam uma resposta local da
resposta inata da barreira da pele, o que resulta na inflamação epidérmica e
dérmica e na formação de exsudato seroso e crostas, compostas por neutrófilos,
soro e resto celulares decorrentes da ruptura das pústulas. Por isso, na microscopia,
é evidente a acumulação de neutrófilos no estrato córneo, resultando na
formação de uma pústula subcórnea, podendo também identificar bactérias nesses
locais. Os cocos gram positivos podem ser encontradas tanto nos neutrófilos
quanto extracelularmente, sendo possível ver a migração de neutrófilos pela
camada de malpighi.
No
impetigo contagioso, há a formação de vesículas pustulosas- devido ao acúmulo
de neutrfilos e exsudatos- que surgem nas camadas superiores da epiderme, na camada
granular, acima ou inferior a ela. Também pode haver células cantolíticas- células da camada espinhosa que sofreram
hidrólise de suas moléculas de adesão intracelular, ficando soltas nas lacunas
da epiderme- no assoalho dessas vesículas. Pode-se visualizar também um
infiltrado moderado de neutrófilos e células linfoides na acima na camada
superior da derme.
No impetigo bolhoso, assim como no contagioso, a
bolha pode se estender da epiderme até a camada granulosa, havendo ainda
presença de células acantolíticas. Além disso, na região superior da derme, há
infiltrado de células polimorfonucleares , encontradas menos frequentemente no
impetigo não-bolhoso.
Nessa
microscopia do impetigo contagiosa, é possível identificar o infiltrado de
neutrófilos na camada superior da epiderme formando a pústula subcórnea e neutrófilos na camada superior da derme.
Nas
lâminas acima, é possível perceber a acantólise, o infiltrado de neutrófilos na
camada subcórnea, o espessamento da camada córnea e a formação de crostas.
Nessa
lâmina, identificamos pela coloração Gram, uma colônia de bactérias no estrato
córneo.
Diagnóstico
O
diagnóstico se baseia no aspecto clínico das lesões. Em casos atípicos ou que
não estão respondendo adequadamente a terapêutica, tenta-se o isolamento da
bactéria a partir da cultura de material colhido da base da lesão, após a
remoção da crosta. Então realiza-se coleta de material (pus ou secreção) para
realização de exames bacterioscópicos e cultura para bactérias. A forma ideal
de coletar o material é encontrar uma pústula íntegra e, após limpeza local,
romper a pústula com uma pequena agulha estéril e coletar o pus com cotonete
estéril. O diagnóstico diferencial com o impetigo de origem estafilocócica não
demostra dificuldades, já que este se apresenta com lesões bolhosas maiores e
crostas mais finas. Além disso,
o diagnóstico diferencial para iododerma e bromoderma, varicela, queimadura e
herpes simples, devem ser feitos.
Tratamento
O primeiro
passo referente ao tratamento é a retirada das crostas e a limpeza das lesões
com água e sabonete. Quando há poucas lesões, utilizam-se antibióticos locais
duas vezes ao dia (neomicina creme, gentamicina creme, mupirocina 2% creme,
ácido fusídico 2% creme). Se houver muitas lesões utilizam-se antibióticos
sistêmicos, sendo as cefalosporinas orais de primeira geração (cefalexina e cefadroxil) ou a penicilina, os primeiros
recomendados. Em pacientes alérgicos as cefalosporinas e a penicilina,
macrolídeos, como azitromicina, eritromicina, claritromicida, também podem ser
usados. Oxacilina (4 a 12 g/dia) via intravenosa, dividida em quatro a
seis doses ou clindamicina 1200 a 2400 mg/dia, dividida em três ou quatro doses
poderão ser utilizadas nos casos graves.
Prevenção
As medidas preventivas incluem
o pronto cuidado higiênico logo após pequenos ferimentos ou picadas de insetos,
limpar as feridas da pele e evitar a “coçadura” de lesões prévias para não
acontecer a contaminação secundária. Higiene pessoal, em especial lavagem de
mãos, higiene das roupas de cama, uso de toalhas de banho individual,
orienta-se a troca da roupa pessoal diariamente, e dessa forma que a roupa
depois de lavada seja secada ao sol e se possível passada a ferro, quanto mais
seca a pele do paciente menor é o risco de contrair a infecção. Recomenda-se
também o tratamento imediato dos casos iniciais e dessa forma desinfecção de ferimentos
ou machucaduras. Em caso de epidemias dever-se-á impor, principalmente em
creches, higiene rigorosa, em especial da lavagem das mãos
Referências
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PEREIRA
LB. Impetigo - review. An Bras
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Parabéns ao grupo! Bom trabalho, boas informações!
ResponderExcluirMuito útil,boas informações. O
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