O que é?
A gastrite é a inflamação do
revestimento mucoso do estômago. A mucosa do estômago oferece resistência à
irritação e normalmente pode suportar um elevado conteúdo ácido. No entanto,
pode irritar-se e inflamar-se por diferentes motivos.
Tipos
Gastrite Bacteriana: segue-se normalmente a uma infecção por
organismos como o Helicobacter pylori (bactérias que crescem nas células
secretoras de muco do revestimento do estômago). Não se conhecem outras
bactérias que se desenvolvam em ambientes normalmente ácidos como o do
estômago, embora muitos tipos possam fazê-lo no caso de o estômago não produzir
ácido. Tal crescimento bacteriano pode provocar gastrite de forma transitória
ou persistente.
Gastrite aguda por stress: o tipo mais grave de gastrite, é
provocada por uma doença ou lesão graves de aparecimento rápido. A lesão pode
não afetar o estômago. Por exemplo, são causas frequentes as queimaduras
extensas e as lesões que provocam hemorragias maciças.
Gastrite erosiva crônica: pode ser secundária a substâncias
irritantes como os medicamentos, sobretudo a aspirina e outros
anti-inflamatórios não esteróides (AINE), à doença de Crohn e a infecções
bacterianas e virais. Com este tipo de gastrite, que se desenvolve lentamente
em pessoas que, por outro lado, gozam de boa saúde, podem verificar-se
hemorragias ou ulcerações. É mais frequente em pessoas que abusam de álcool.
Gastrite viral ou por fungos: pode desenvolver-se em doentes
crônicos ou imunodeprimidos.
Gastrite eosinófilica: pode resultar de uma reação alérgica a uma
infestação por certos vermes (nemátodos). Neste tipo de gastrite, os
eosinófilos (um tipo de glóbulos brancos no sangue) acumulam-se na parede
gástrica.
Gastrite atrófica: ocorre quando os anticorpos atacam o
revestimento mucoso do estômago, provocando o seu adelgaçamento e perda de
muitas ou de todas as células produtoras de ácido e de enzimas. Esta
perturbação afeta normalmente as pessoas mais velhas. Também tem tendência para
ocorrer nas pessoas a quem foi extirpado parte do estômago (procedimento
cirúrgico chamado gastrectomia parcial). A gastrite atrófica pode provocar
anemia perniciosa porque interfere com a absorção da vitamina B12 presente nos
alimentos.
Doença de Menetrier: é um tipo de gastrite de causa desconhecida.
Nesta, as paredes do estômago desenvolvem pregas grandes e grossas, glândulas
volumosas e quistos cheios de líquido. Cerca de 10 % dos afetados desenvolvem
cancro do estômago.
Gastrite de células plasmáticas: é outra forma de gastrite de
origem desconhecida. Nesta doença, as células plasmáticas (um tipo de glóbulos
brancos) acumulam-se nas paredes do estômago e noutros órgãos.
A gastrite também pode ser
induzida pela ingestão de agentes corrosivos, como os produtos de limpeza, ou
pelos elevados níveis de radiação (por exemplo, na radioterapia).
Sintomas
Os sintomas variam conforme o
tipo de gastrite. No entanto, normalmente uma pessoa com gastrite sofre de
indigestão e de queixas ligeiras na parte alta do abdômen. Na gastrite aguda
por stress, a doença subjacente, os traumatismos ou as queimaduras em geral
camuflam os sintomas gástricos. No entanto, podem sentir-se queixas moderadas
na parte alta do abdômen. Pouco depois dum traumatismo, no revestimento do
estômago podem surgir pequenos pontos hemorrágicos. Em poucas horas, estas
pequenas lesões hemorrágicas podem converter-se em úlceras. As úlceras e a
gastrite podem desaparecer se a pessoa recuperar rapidamente do traumatismo. Se
assim não for, as úlceras podem tornar-se maiores e começar a sangrar,
normalmente entre 2 e 5 dias depois da lesão. A hemorragia pode fazer com que
as fezes sejam de cor negro-alcatrão, tingir de vermelho o líquido do estômago
ou, se for muito abundante, fazer baixar a tensão arterial. A hemorragia pode
ser maciça e mortal. Os sintomas da gastrite erosiva crônica incluem náuseas
ligeiras e dor na parte alta do abdômen. No entanto, muitas pessoas (como os
consumidores crônicos de aspirinas) não sentem dor. Algumas pessoas podem
apresentar sintomas parecidos com os duma úlcera, como dor, quando o estômago
está vazio. Se a gastrite se complicar com úlceras sangrantes, as fezes podem
adotar uma cor negro-alcatrão (melena) ou então podem verificar-se vômitos de
sangue vermelho (hematêmese) ou de sangue parcialmente digerido (como borra de
café). Na gastrite eosinofílica, a dor abdominal e os vômitos podem ser
provocados por um estreitamento ou por uma obstrução completa da saída do
estômago para o duodeno. Na doença de Ménétrier, o sintoma mais comum é a dor
de estômago. São menos habituais a perda de apetite, os vômitos e a perda de
peso. A hemorragia é também rara. Pode ser provocada uma retenção de líquidos e
uma tumefação dos tecidos (edema) devido à perda de proteínas pela inflamação
do revestimento do estômago. Estas proteínas misturam-se com o conteúdo do
estômago e são eliminadas do organismo. Na gastrite de células plasmáticas,
podem aparecer dor abdominal, vômitos e diarréia, juntamente com uma erupção
cutânea. A gastrite por radioterapia provoca dor, náuseas e ardor devido à
inflamação e, por vezes, ao desenvolvimento de úlceras no estômago. Estas podem
perfurar a parede do estômago, pelo que o conteúdo deste se espalha pela
cavidade abdominal e provoca uma peritonite (inflamação do revestimento
abdominal) e uma dor muito intensa. Esta doença grave, caracterizada pela
rigidez do abdômen, requer cirurgia imediata. Em alguns casos, depois da
radioterapia, formam-se umas cicatrizes que estreitam a saída do estômago,
provocando dor abdominal e vômitos. A radiação pode danificar o revestimento
protetor do estômago, de tal forma que as bactérias podem invadir a sua parede
e provocar uma forma de gastrite grave e extremamente dolorosa de aparecimento
brusco.
Diagnóstico
Histórico
clínico e endoscopia alta (exame que permite visualizar a mucosa do estômago)
são fundamentais para o diagnóstico da gastrite. Isso não exclui a necessidade
de realizar uma biópsia, isto é, de retirar fragmentos da mucosa estomacal para
análise mais minuciosa no microscópio.
Tratamento
O tratamento da gastrite tem de
levar em conta a causa da doença. Como existe associação entre Helicobacter pylori e gastrite, se tratarmos apenas a
segunda sem combater o primeiro, a probabilidade de a doença reaparecer
aumenta. No entanto, ela diminuirá bastante, se os dois tratamentos ocorrerem
simultaneamente. O uso de ácido acetilsalícilico, anti-inflamatórios e álcool
deve ser evitado, porque essas substâncias funcionam como fatores de risco para
a doença.
A
medicação para gastrite pode ser ministrada por via oral e os resultados
obtidos costumam ser bastante satisfatórios.
Histofisiologia da Gastrite
ALTERAÇÕES MACROSCÓPICAS:
Eritema, erosões, atrofia, úlcera, lesões polipoides, lesões vegetantes ou
infiltrativas;
ALTERAÇÕES MICROSCÓPICAS: Erosões
com ou sem sinais inflamatórios, aumento do componente linfoplasmocitário,
neutrófilos (atividade inflamatória), irregularidade de criptas e reatividade
epitelial, hiperplasias e pólipos, ulceração com material fibrinonecrótico,
metaplasia intestinal com e sem atrofia, displasia epitelial, adenocarcinoma,
outras neoplasias benignas e malignas
Gastrite severa crônica: Completa atrofia glandular podendo haver
zonas de mucosa que não apresentam glândulas, a mucosa passa a ser uma camada
muito fina.
Mucosa com gastrite aguda, evidenciando edema e congestão vascular na lâmina própria. Ampliação 200X.
Lâmina: Gastrite erosiva
Lâmina: Gastrite Reativa
Referências:
MARTINS, L C.; CORVELO, TCO.;
OTI, HT.; BARILE, KAS. Soroprevalência de anticorpos contra antígeno CagA do
Helicobacter pylori em pacientes com úlcera gástrica na região Norte do Brasil.
Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. 2002, 35 (4): 307-10.
Parabéns ao grupo! Leitura proveitosa.
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