segunda-feira, 14 de maio de 2018

[CC II: #6] ÚLCERA PÉPTICA


DEFINIÇÃO

A doença ulcerosa péptica caracteriza-se por ser uma lesão (maior ou igual a 5cm) em forma de ferida que penetra na muscular da mucosa do tubo digestivo, de evolução geralmente crônica, com surtos de ativação e períodos de alívio. Geralmente, tais úlceras ocorrem em uma área inflamada, sendo esta inflamação denominada gastrite ou duodenite. Quando a lesão está localizada no estômago, é chamada de úlcera gástrica; e quando se localiza na primeira parte do intestino delgado (duodeno), é denominada úlcera duodenal.

As úlceras gástricas podem ser classificadas em úlceras proximais, quando ocorrem no corpo do estômago, e em úlceras distais, localizadas no antro e no ângulo do estômago. Já as úlceras duodenais, podem ocorrer na parede anterior ou posterior do bulbo, que é a primeira parte do duodeno, e em porções distais ao bulbo, sendo denominadas úlceras pós-bulbares. É importante salientar que as úlceras gástricas tendem a ocorrer mais na região do antro pilórico, enquanto que as úlceras duodenais tendem a se manifestar predominantemente na ampola ou bulbo.



Figura 1 – Úlcera péptica
Fonte: MAYO FOUNDATION FOR MEDICAL AND RESERACH

EPIDEMIOLOGIA
Atualmente, cerca de 90% das úlceras duodenais e 75% das úlceras gástricas são causadas pela infecção da bactéria Helicobacter pyloriDesse modo, a prevalência mundial da doença ulcerosa péptica reflete o predomínio dessa bactéria.

Nos países em desenvolvimento, a prevalência é muito alta em todos os grupos etários. Em países ocidentais, úlceras duodenais ocorrem mais frequentemente do que úlceras gástricas. A idade predominante na qual a úlcera duodenal ocorre é entre 20 e 50 anos, enquanto que a úlcera gástrica ocorre mais comumente em pacientes com mais de 40 anos de idade.

Assim, diante dos dados supramencionados, percebe-se que a doença ulcerosa péptica se consolida como uma das doenças gastrointestinais mais preponderantes e custosas.

HISTOPATOLOGIA / ETIOPATOLOGIA
As úlceras pépticas  podem ser de dois tipos: primárias, ligadas à infecção pelo H. pylori, com curso clínico crônico, agredindo principalmente o duodeno, sem doença sistêmica associada e mais predominantes em crianças acima de 10 anos de idade; ou secundária, de curso clínico agudo, mais frequentemente encontrada no estômago de crianças abaixo de 6 anos de idade, em especial neonatos e lactentes, na qual os mecanismos etiopatogênicos dependem da doença de base.

Apesar de predominar os fatores de agressão à mucosa na doença primária e alterações dos mecanismos de defesa da mucosa na UP secundária, de modo geral a patologia decorre de um desequilíbrio entre os mecanismos de defesa e os fatores de agressão da mucosa gastroduodenal.

Diferentemente do que ocorre na mucosa gástrica, que a proteção se deve à barreira mucosa, os íons hidrogênio (H+) penetram facilmente nas células da mucosa duodenal, levando à diminuição transitória do pH. Essa mudança ativa os co-transportadores basolaterais de íon sódio (Na+)-HCO3 -, com consequente migração exagerada de HCO3 - do espaço extra para o intracelular, ativando a troca HCO3 -/íon cloreto (Cl-) na porção apical da membrana celular. Esses acontecimentos resultam com o aumento da secreção de HCO3 -, que, juntamente com a camada de muco, é capaz de neutralizar os íons H+ que chegam à luz do duodeno, certificando a neutralidade e a plenitude da mucosa.

A infecção  reduz a secreção duodenal de HCO3 - e de muco, logo a mucosa duodenal torna-se permeável e é agredida pelos íons H+ e outros irritantes, sendo substituída por mucosa gástrica metaplásica. A bactéria presente na mucosa do estômago desloca-se e ocupa as áreas de metaplasia gástrica no duodeno e estimula a resposta inflamatória local predispondo à formação do nicho ulceroso.

A infecção do antro gástrico pelo H. pylori leva a um aumento de secreção ácida através da inibição das células produtoras de somatostatina e consequente aumento da liberação de gastrina pelas células G do antro gástrico. Como conseqüência desta maior quantidade de ácido ao duodeno, haverá o desenvolvimento de áreas de metaplasia gástrica no duodeno, as quais, então, poderão ser colonizadas pelo H. pylori levando à duodenite e, eventualmente, úlcera duodenal. Vale ressaltar que fatores ambientais e genéticos, além dos relacionados à virulência do microrganismo, poderão abalar a fisiologia gástrica e afetar o desfecho da doença.

Por outro lado, as úlceras gástricas tendem a acontecer em mucosa não secretora de ácido ou próximas à junção com a mucosa não secretora. Até mesmo quando ocorrem na região alta da pequena curvatura, elas incidem em mucosa não secretora. Nesta situação, a pangastrite (inflamação na parede interna do estômago) induzida pelo H. pylori é a responsável pelas modificações metaplásicas que alteram a mucosa secretora em não secretora.

É importante também informar que o uso de antiinflamatórios constitui  uma causa de UP, em particular na população mais idosa e, mais raramente, outras etiologias podem estar associadas como gastrinoma (Síndrome de Zollinger-Ellisson) e forma duodenal de doença de Crohn.

 
Fonte:http://anatpat.unicamp.br/lamtgi1.html

Fonte: http://gastropedinutri.blogspot.com.br/search/label/%C3%9Alcera?m=0




SINTOMAS
O sintoma mais frequente é a sensação de desconfortona parte central e superior do abdome, sob a forma de"Fome dolorosa" ou azia, que se acalma coma tomada da comida e que reaparecehoras depois. Outros sintomas menos frequentes sãonáuseas e vômitos.

A causa mais comum de morte nos pacientes com doença ulcerosa péptica é o sangramento em pacientes com problemas clínicos importantes ou que têm mais de 65 anos de idade. Pelo fato de o duodeno apresentar um suprimento sanguíneo abundante e a artéria gastroduodenal encontrar-se diretamente posterior ao bulbo duodenal, o sangramento gastroduodenal a partir de uma úlcera duodenal é razoavelmente comum. A maioria dos casos de hemorragia gastrintestinal superior maciça é, de fato, secundária a uma úlcera duodenal sangrante após a penetração desta úlcera em uma artéria gastroduodenal.

A inflamação aguda do duodeno também pode levar a uma obstrução mecânica, com uma obstrução funcional do trato de saída gástrico, manifestada por retardo no esvaziamento gástrico, anorexia ou náuseas acompanhadas por vômitos.


DIAGNÓSTICO
O paciente possui dor relacionada com a acidez gástrica, referindo dor epigástrica, do tipo queimação, seguindo um ritmo que acompanha a alimentação, ocorrendo 2 a 3 horas após a refeição, ou durante a noite. A dor costuma aliviar com alimentos alcalinos. A dor noturna acorda o paciente entre meia noite e 3 horas, sendo um fator discriminante da úlcera péptica, pois aparece em 66% dos casos.  É importante salientar o caráter periódico da dor epigástrica, durando dias ou semanas, desaparecendo por semanas ou meses para aparecer em anos ou meses, com as mesmas características. A partir da observação dessas pontualidades, parte-se para o diagnóstico definitivo.

O diagnóstico definitivo é feito pela endoscopia digestiva alta que além de exame de imagem, também permite a realização de biópsias. Pode-se também realizar testes de dosagem gástrica sérica, de secreção gástrica e ecoendoscopia.

Juntamente com o diagnóstico das úlceras, faz-se a pesquisa por Helicobacter pylori, por meio da própria endoscopia, por pesquisa histológica ou pelo teste de uréase. Há também métodos não invasivos para essa pesquisa, como testes sorológicos na procura de anticorpos anti Helicobacter pylori, testes de antígenos fecais e o teste respiratório com uréia marcada com carbono-13 ou carbono-14.


TRATAMENTO
Como a maioria das úlceras é relacionada a Helicobacter pylori, o tratamento irá fundamentalmente eliminar a bactéria, o que secundariamente melhora os sintomas de dor, promove a cicatrização das úlceras, previne recidivas e complicações.

Atualmente, utiliza-se um anti-secretor ( inibidor de bomba protônica ou citrato de ranitidina bismuto) associado a dois antibióticos por 7 a 10 dias. Os novos estudos mostram que não é necessário prolongamento do uso de anti-secretores depois do fim do tratamento de erradicação. Porém, há casos que necessitam de 4 a 8 semanas de uso de anti-secretores após a erradicação da bactéria, visando a cicatrização.

Dois a três meses após a finalização deve-se realizar o controle de cura da infecção, e o teste ideal é o da uréia marcada com carbono -13 ou carbono -14, é custo é médio e é muito sensível.


Figura 2 – Tabela de opções terapêuticas na erradicação da Helicobacter pylori                                 
Fonte: Diretriz de úlcera péptica, Federação Brasileira de Gastroentologia

Em caso de falha no tratamento, a estratégia será uso de anti-secretores em doses padrões 2 vezes ao dia + subsalicilato ou subcitrato de bismuto 120mg 4 vezes ao dia + metronidazol 500mg 3 vezes ao dia + tetraciclina 500mg 4 vezes ao dia, durante no mínimo 7 dias.

Em casos de úlcera péptica associada a antiinflamatórios não-esteróides deve-se incluir anti-secretores e/ou prostaglandinas.


REFERÊNCIAS
MARTÍN DE ARGILA DE PRADOS, C.; BOIXEDA DE MIQUEL, D. Úlcera péptica. Revista Española de Enfermedades Digestivas, v. 96, n. 1, p. 81-82, 2004.

BITTENCOURT, Paulo FS et al. Gastroduodenal peptic ulcer and Helicobacter pylori infection in children and adolescentsJornal de pediatria, v. 82, n. 5, p. 325-334, 2006.

GOLDMAN, Lee; AUSIELLO, Dennis. Cecil medicina: v. 2. In: Cecil medicina: v. 2. 2009.

DOENÇA ULCEROSA PEPTICA. (19 de Março de 2009). Acesso em 10 de Maio de 2018, disponível em Misodor: http://www.misodor.com/ULCERA%20PEPTICA.html

Federação Brasileira de Gastroenterologia. (31 de Janeiro de 2003). Úlcera Péptica. Acesso em 10 de Maio de 2018, disponível em Projeto Diretrizes: https://diretrizes.amb.org.br/_BibliotecaAntiga/ulcera-peptica.pdf

UNICAMP. (s.d.). Úlcera péptica (Lam. A. 208). Acesso em 11 de Maio de 2018, disponível em Anatpat : http://anatpat.unicamp.br/lamtgi1.html

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