O esôfago é um conduto cuja função principal função é
transportar alimentos da boca até o estômago. A fim de ser protegida do
desgaste mecânico e químico, essa estrutura possui alguns mecanismos, como sua
mucosa e esfíncteres. O esfíncter esofágico inferior- EEI- é fundamental para impedir o refluxo do suco
gástrico para o esôfago, evitando lesão tecidual. O refluxo esofágico é uma
condição fisiológica, especialmente em lactentes e crianças. No entanto, a
cronicidade desse processo, pode ser patológico levando a manifestação de
sintomas gastrointestinais, respiratórios, além da dor torácica.
A Doença do Refluxo Esofágico é, então, uma afecção causada
pelo fluxo retrógrado de conteúdo gastroduodenal, gerando sintomas e/ou
complicações. A DRGE é um dos problemas gastrointestinais mais comuns no mundo
ocidental e estima-se que 12% da população brasileira é acometida por essa
condição. Ainda que seja um importante problema de saúde pública, presume-se
que há subnotificação, pois, o acesso à medicação sem prescrição é
relativamente fácil.
Sintomas
As manifestações clínicas típicas da DRGE são pirose
recorrente, sem irradiação para o dorso, surgindo, normalmente, após refeições
gordurosas, por, no mínimo, duas vezes por semana, por um período de quatro a
oito semanas, podendo estar associada ou não a eructações e regurgitação.
Entretanto, existem sintomas extraesofágicos que também são indicativos de
DRGE: dor torácica, tosse, asma brônquica, disfonia, pigarro, erosão dental,
aftas e halitose.
Pacientes com manifestações atípicas podem ou não manifestar os sintomas
clássicos da DRGE, o diagnóstico requer atenção e cuidadosa anamnese.
Diagnóstico
O primeiro passo para o
diagnóstico da DRGE é uma cuidadosa anamnese que, após suspeita diagnóstica,
serão solicitados exames para confirmação (endoscopia, exame radiológico
contrastado do esôfago, Phmetria de 24 horas, teste terapêutico).
Anamnese: é fundamental compreender a frequência e a duração dos
sintomas, especialmente da pirose, bem como, questionar o paciente sobre a
presença de odinofagia, de emagrecimento, história familiar de câncer, náuseas
e vômitos, pois são considerados sintomas de alarme.
Vale ressaltar que a ausência desses sintomas não exclui a possibilidade da
DRGE.
Phmetria prolongada: é considerado o exame “chave” no diagnóstico
da DRGE. Neste exame, avalia-se a intensidade da exposição da mucosa esofágica
ao ácido gástrico. Considera-se o
refluxo patológico quando o pH da região fica abaixo de 4.0 por mais de 4% do tempo
de duração do exame.
Histopatologia
A mucosa esofágica é formada por epitélio
pavimentoso estratificado não queratinizado e uma lâmina própria que contém
vasos, nervos, músculo liso e tecido linfoide. Próximo ao estomago existem
grupos de glândulas na lâmina própria (glândulas esofágicas da cardia) e também
na submucosa que secretam muco, facilitando assim o transporte de alimento e
protegendo essa mucosa, no entanto, esse muco é mais funcional como uma
barreira mecânica sendo susceptível a estresses químicos como quando exposto ao
ácido clorídrico. Nesse mecanismo há uma falha do esfíncter inferior,
possibilitando o refluxo de secreção gástrica e sua atuação na mucosa, o que
acarreta uma hiperplasia da camada basal do epitélio, infiltrado inflamatório
da lamina própria, causando assim, esofagites, erosão e úlceras.
Tais
manifestações caracterizam-se pela presença de epitélio colunar substituindo
epitélio escamoso que normalmente reveste o esôfago distal. Esta condição
ocorre quando a DRGE lesa a mucosa do esôfago e a lesão cicatriza por processo
de metaplasia intestinal incompleta, isso predispõe os pacientes ao adenocarcinoma.
Esôfago normal
http://www.atlas.icbim.ufu.br/histologia_animal/sist_digestivo.html
Esôfago na DRGE
Por
isso a estratégia recomendada atualmente é identificar e biopsiar áreas de
irregularidade da mucosa como granularidade, placas, pólipos, ulcerações,
erosões e mudanças sutis de coloração como a hiperemia.
Tratamento
O tratamento da
DRGE é primariamente clínico, sendo baseado em duas vertentes principais: modificações
no estilo de vida e terapia medicamentosa, objetivando uma redução ou
eliminação dos sintomas, bem como a prevenção de novos episódios da doença e
suas complicações. As mudanças nos hábitos de vida se baseiam em algumas
restrições alimentares e comportamentais, as quais corresponderiam ao controle
dos fatores de risco, assim como medidas físicas de prevenção, a exemplo de:
- Elevar a cabeceira da cama em 15 cm, que impediria o refluxo por ação da gravidade;
- Cessar tabagismo;
- Cessar consumo excessivo de álcool;
- Reduzir a gordura da dieta;
- Reduzir o tamanho da refeição;
- Evitar lanches na hora de dormir;
- Perder peso (se acima do peso);
- Evitar chocolate, carminativos (hortelã, menta), café (cafeinado e descafeinado), chá, refrigerantes, suco de tomate, sucos de frutas cítricas;
- Evitar, quando possível, anticolinérgicos.
Já no
tratamento medicamentoso, a utilização de antiácidos ou combinações antiácido-alginato
é recomendada para o alívio seguro, rápido e barato do sintoma de azia. Porém,
esses devem ser controlados, uma vez que possuem alguns efeitos colaterais como
diarreias e constipação, além de efeitos de melhora efêmeros e pouca
palatabilidade. A proteção contra recidiva da azia é proporcionada por
medicações supressoras de ácido, como antagonistas de receptores H2
e IBPs. Os antagonistas dos receptores H2, reduzem moderadamente a
secreção de ácido gástrico pela inibição de um dos três receptores
estimuladores da secreção ácida na membrana basolateral da célula oxíntica,
impedindo assim a ação de estimuladores da liberação do ácido. Quando
prescritos para utilização duas vezes ao dia, eles podem controlar sintomas em
cerca de 50% dos pacientes com DRGE e curar erosões em cerca de 30%. Os IBPs inibem
irreversivelmente a H+, K+-ATPase ou bomba de prótons, o
caminho final comum para a secreção ácida na membrana apical da célula
parietal. Consequentemente, os IBPs diminuem substancialmente a acidez gástrica
com uma dose única diária, promovendo o alívio dos sintomas e curando as lesões
esofágicas em cerca de 80% a 90% dos pacientes com DRGE.
A endoscopia
precoce é indicada para individuas com sintomas de alarme, bem como para os
pacientes que não tiveram um sucesso efetivo com a terapia de IBP uma vez ao
dia visando à confirmação do diagnóstico e a avaliação da gravidade da doença,
a exemplo da evolução do caso e presença de esôfago de Barrett, uma das maiores
complicações da DRGE. As falhas na terapia
de IBP uma vez ao dia são tratadas com o aumento da dosagem de IBP para duas
vezes ao dia, em conjunto ou não de antagonistas do receptor H2 na
hora de dormir, por um período de 6 a 8
semanas. Pacientes que não responderem a esse tratamento serão submetidos a
monitoramento de pH esofágico durante a terapia, a fim de avaliar o controle da
acidez esofágica. Caso essa se encontre controlada, os sintomas não são
mediados pelo ácido. A terapia eficaz é normalmente acompanhada de recidiva
quando a medicação é interrompida, especialmente em pacientes com esofagite
erosiva, nos quais a manutenção da terapia é indicada. Pacientes que requerem a
manutenção da terapia devem sofrer pelo menos um procedimento endoscópico para
determinar se existe presença de esôfago de Barrett, o qual se descartado
promove a mudança da terapia para o controle dos sintomas.
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ResponderExcluirParabéns a equipe!