segunda-feira, 28 de maio de 2018

ENTEROCOLITE PARASITÁRIA (AMEBÍASE)



INTRODUÇÃO

A amebíase é uma infecção causada pelo protozoário intestinal parasítico Entamoeba histolytica (a "ameba de lise tecidual"). É a segunda doença que causa mais mortes, principalmente entre a população que possui condições mais precárias. Apesar disso, a maioria das infecções é assintomática (espécies não patogênicas/invasivas: E. dispar e E. moshkovskii.), mas E. histolytica pode causar doença que leva desde a disenteria até infecções extra-intestinais, incluindo abcessos do fígado.  
 



E.histolytica existe em dois estágios: uma forma de cisto multinucleado resistente e o estágio de trofozoíto móvel. A infecção é adquirida pela ingestão de cistos contidos em alimentos ou água contaminada com fezes, ou mais raramente, por meio de contato sexual oral-anal. Os cistos sobrevivem na acidez do estômago e o exocisto no intestino delgado formando o estágio de trofozoíto de 20 a 50 micrômetros. Os trofozoítos podem viver no interior da luz do intestino grosso sem causar doença ou podem invadir a mucosa intestinal, provocando colite amebiana. Em alguns casos, os trofozoítos invadem a mucosa e acorrente sanguínea, trafegando pela circulação portal e atingindo o fígado e causando abcessos hepáticos amebianos (Nos países onde a amebíase invasiva tem alta prevalência, o abscesso hepático é mais frequente, constituindo uma grave complicação).



EPIDEMIOLOGIA

As infecções por E. histolytica são mais comuns em áreas do mundo onde o sanitarismo precário e o excesso populacional comprometem as barreiras à contaminação de alimentos e água potável nas fezes humanas. As áreas endêmicas incluem partes do México, Índia e países das regiões tropicais da África, Américas do Sul e Central, e Ásia. 
Uma característica marcante da amebíase é sua ocorrência mais comum em homens do que em mulheres, embora a prevalência da infecção com E. histolytica não pareça diferir entre os sexos. Esse padrão é particularmente pronunciado para abcessos hepáticos amebianos, cuja prevalência é aproximadamente 7 vezes maior entre os homens do que entre as mulheres.

PATOGENIA E VIRULÊNCIA

A doença se inicia quando os trofozoítos do E. histolytica aderem às células epiteliais da mucosa, possuindo trofismo maior por células da região do ceco e retosigmoidais. A alta adesão entre célula-protozoário é devido a presença de lectinas e estruturas filopódicas que aumentam a adesão e promovem a fixação ás células do hospedeiro. Os trofozoítos possuem muitas estruturas que podem ser utilizados para aumento de sua patogenicidade, entre elas destacam-se adesinas, e uma alta gama de proteinases que promovem a lise de células e tecidos, induzindo a apoptose e levando a necrose tecidual das regiões em que coloniza. Quando a barreira epitelial é rompida, ocorre a invasão à mucosa, os trofozoítos reproduzem e entram nos tecidos adjacentes com diminuta reação inflamatória.


 Na mucosa e submucosa, as amebas podem progredir em todas as direções, determinando inicialmente a típica ulceração chamada “botão de camisa”. Mas ocasionalmente podem atingir o tecido conjuntivo e induzir a uma resposta inflamatória proliferativa com formação de uma massa granulomatosa, chamada “ameboma”, que é um tumor benigno do ceco ou do retossigmoide que diminui a luz do espaço intestinal.




Outra possibilidade é a penetração no sangue, no qual podem se transportar através  da mesentérica superior, para o fígado e causar inflamações agudas e abscessos (SANTOS et al., 2011).Nesses casos, os sintomas aparecem em média três meses após os sintomas intestinais.  Podem também atingir o pulmão, mais raramente o cérebro e, em certas circunstâncias, a pele e as regiões anal ou vaginal (NEVES, 2016).


O período de incubação depende da quantidade de patógeno ingerida e das condições próprias do hospedeiro, a exemplo da idade, resposta do sistema imunológico, e outras patologias associadas e pode ser, em média, de uma semana a 4 meses. A taxa de mortalidade pode ser muito alta se não for medicada.
Existem duas principais formas clínicas: amebíase intestinal e amebíase extra intestinal. Podendo evoluir sem sintomatologia ou apresentar sintomas típicos tais como: disenteria, febre que pode ser moderada ou não acontecer, leucocitose menor que 10 mil glóbulos brancos por microlitro e evacuações frequentes (10 vezes ao dia) (CHAVES et al.,2010). Uma das apresentações que também é comuns é a colite não disentérica com a presença de duas a quatro evacuações pastosas ou com muco e sangue, alternando com uma constipação, tenesmo e flatulência.
Na apresentação extra-abdominal o paciente cursa com dor referida ao hipocôndrio direito, que aumenta ao menor movimento, sendo a intensidade da dor variável, muito semelhante a uma cólica biliar. A febre apresenta-se frequentemente no período noturno e pode chegar aos 40°C associada com astenia, calafrios, suores, náuseas e vômitos. Na forma subaguda da amebíase a perda de peso é o principal sintoma.

DIAGNÓSTICO

Uma das formas de diagnóstico é a presença de trofozoíto nas fezes. Quando o diagnóstico é feito dessa maneira não ocorre diferenciação da E. histolytica, E. dispar e E. moshkovskii. Porém existem outras formas de diagnóstico através da utilização de anticorpos séricos, ultra sonografia, tomografia axial computadorizada para diagnóstico dos abcessos amebianos. Quando se usa técnicas mais específicas, que detectam antígenos ou DNA específico, a prevalência consequentemente cai consideravelmente, já que a maioria das pessoas (indivíduos assintomáticos) está infectada por outra ameba que não a E. histolytica (CHAVES et al.,2010).
 No exame físico tem sinais de desidratação e dor abdominal na fossa ilíaca direita com aumento de ruídos no trato gastrointestinal. Na fase extra-abdominal apresenta hepatomegalia dolorosa, que acaba dificultando a palpação. Pelo comprometimento do fígado, pode ocorrer icterícia. (SILVA et al, 2005).
Durante as manifestações clínicas ocorre grande perda de água e eletrólitos, por isso manter a hidratação durante o tratamento é muito importante. Outro fator importante no tratamento é a identificação dos casos que são a presença de E. histolytica patogênica, que é a única que se recomenda tratamento. Os fármacos de escolha nesses casos são o Metronidazol, que está presente no quadro de medicamento do SUS e Secnidazol, que possui como vantagem ser dado em dose única para adultos e crianças.

TRATAMENTO

A OMS estabeleceu que o tratamento da amebíase deverá ser iniciado apenas em casos de confirmação específica de E. histolytica. A diferenciação do tipo patogênico da dispar é indispensável para o tratamento com drogas específicas e acompanhamento adequado. O fármaco de escolha no Brasil é o metronidazol, medicamento de baixo custo oferecido pelo SUS, mas pode-se utilizar o secnidazol em dose única para adultos e crianças. Este último é de ação rápida e absorção completa e tendo meia-vida mais longa que os principais s derivados imidazólicos.
Segundo NEVES (2016) podemos classificar os medicamentos contra a amebíase 3 grupos distintos: Amebicidas, que atuam diretamente na luz intestinal, Amebicidas tissulares e Amebicidas que atuam na luz intestinal e nos tecidos. O primeiro grupo, que atua na luz intestinal, tem uma ação direta por contato sobre a E. histolytica fixada na parede ou na luz do intestino. São eles os derivados de quinoleína: iiodohidroxiquinoleina, iodocloro-hidroxiquinoleina, cloridroxiquinoleína; antibioticos: as paramocininas e eritromicina; e por fim, outros derivados: furoato de diloxamina, clorobetarnida e clorofenoxarnida. As de ação tissular, intestino e fígado, são compostos de cloridrato de emetina, cloridrato de diidroemetina e cloroquina. Por fim, os que atuam na luz intestinal e tecidos: antibióticos isolados ou combinados com outros amebicidas: tetraciclinas e seus derivados, clorotetraciclina e oxitetraciclinas; eritromicina; espirarnicina e pararnomicina. Derivados imidazólicos: metronidazol ornidazol, nitroimidazol e seus derivados, secnidazol e tinidazol. São utilizados por via oral como injetáveis..No caso de portadores assintomáticos ou de colites não disentéricas, são indicados os medicamentos de ação direta na luz intestinal, como o teclosan e etofamida,e normalmente repte-se o tratamento. Na amebíase extra-intestinal, principalmente no abscesso hepático, o metronidazol é a droga mais indicada, na dosagem de 500 a 800mg três vezes ao dia durante cinco a dez dias. Deve-se considerar que o tratamento medicamentoso geralmente está associado a efeitos adversos que variam desde náuseas e dor abdominal até diarréias e vômitos.

Tabela: Tratamento da amebíase

PROFILAXIA

A E. Histolytica pode ser transmitida através de alimentos e água que contenham o patógeno e, também por isso, países em desenvolvimento e que apresentam problemas consideráveis com saneamento básico apresentam números elevados de casos, justamente devido às condições sanitárias e deficiências no saneamento. Esse quadro aponta para a necessidade das medidas profiláticas estarem principalmente voltadas para a melhoria dessas condições, seja através do tratamento de esgoto, tratamento adequado da água, educação da população sobre como utilizar a água, fervendo, por exemplo, higienizar os alimentos, lavagem das mãos e outras medidas de baixo custo. É importante salientar que a OMS sugere ainda, com o objetivo de evitar a ingestão de cistos viáveis, lavar bem e ferver todos os alimentos crus. No caso das verduras, elas devem ser mergulhadas por 15 minutos numa solução de 0,3g de permanganato de potássio para 10 litros de água ou três gotas de iodo por litro de água, eliminando os cistos viáveis. Depois desse procedimento, lavar em água corrente.



REFERÊNCIAS

ANDRADE, Elisabeth et al. Parasitoses intestinais: uma revisão sobre seus aspectos sociais, epidemiológicos, clínicos e terapêuticos. Rev. APS, Juiz de Fora, v. 13, n. 2, p. 231-240, abr./jun. 2010.

CORDEIRO, Thiago; MACEDO, Heloisa. AMEBÍASE. Revista de Patologia Tropical, Goiás, Vol. 36, p.119-128, maio-ago. 2007.

LONGO, Dan L.; FAUCI, Anthony S. Gastrenterologia e Hepatologia de Harrison. 2°. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014. 600 p. v. I. Disponível em: <https://books.google.com.br/books?hl=pt R&lr=&id=FxyGBAAAQBAJ&oi=fnd&pg=
PA239&dq=ameb%C3%ADase+intestinal&ots=oWSQYnm7yh&sig=juTOEmKcmQjKKWw1z376CH8n8pU#v=onepage&q&f=true>.

NEVES, David Pereira. Parasitologia humana.13. ed. São Paulo: Atheneu, 2016. PALERMO CHAVES, Antônio Carlos; SEIXAS FILHO, José Teixeira de; LIMA DANTAS, Marcia Macedo. Revisão do mecanismo fisiopatológico da amebíase. Revista Augustus, Rio de Janeiro, v.14, n.29, p.74-87,2010. Available from .

NICOLI, Bruna Moreira et al. AMEBÍASE: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA E VISÃO EPIDEMIOLÓGICA. 2017.Disponível em <http://www.pensaracademico.facig.edu.br/index.php/semiariocientifico/article/view/412/343>




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