INTRODUÇÃO
A
amebíase é uma infecção causada pelo protozoário intestinal parasítico
Entamoeba histolytica (a "ameba de lise tecidual"). É a segunda
doença que causa mais mortes, principalmente entre a população que possui
condições mais precárias. Apesar disso, a maioria das infecções é assintomática
(espécies não patogênicas/invasivas: E. dispar e E. moshkovskii.),
mas E. histolytica pode causar doença que leva desde a disenteria até infecções
extra-intestinais, incluindo abcessos do fígado.
E.histolytica existe em dois estágios: uma
forma de cisto multinucleado resistente e o estágio de trofozoíto móvel. A
infecção é adquirida pela ingestão de cistos contidos em alimentos ou água
contaminada com fezes, ou mais raramente, por meio de contato sexual oral-anal.
Os cistos sobrevivem na acidez do estômago e o exocisto no intestino delgado
formando o estágio de trofozoíto de 20 a 50 micrômetros. Os trofozoítos podem
viver no interior da luz do intestino grosso sem causar doença ou podem invadir
a mucosa intestinal, provocando colite amebiana. Em alguns casos, os
trofozoítos invadem a mucosa e acorrente sanguínea, trafegando pela circulação
portal e atingindo o fígado e causando abcessos hepáticos amebianos (Nos países
onde a amebíase invasiva tem alta prevalência, o abscesso hepático é mais
frequente, constituindo uma grave complicação).
EPIDEMIOLOGIA
As
infecções por E. histolytica são mais comuns em áreas do mundo onde o
sanitarismo precário e o excesso populacional comprometem as barreiras à
contaminação de alimentos e água potável nas fezes humanas. As áreas endêmicas
incluem partes do México, Índia e países das regiões tropicais da África,
Américas do Sul e Central, e Ásia.
Uma
característica marcante da amebíase é sua ocorrência mais comum em homens do
que em mulheres, embora a prevalência da infecção com E. histolytica não
pareça diferir entre os sexos. Esse padrão é particularmente pronunciado para
abcessos hepáticos amebianos, cuja prevalência é aproximadamente 7 vezes maior
entre os homens do que entre as mulheres.
PATOGENIA
E VIRULÊNCIA
A
doença se inicia quando os trofozoítos do E. histolytica aderem às
células epiteliais da mucosa, possuindo trofismo maior por células da região do
ceco e retosigmoidais. A alta adesão entre célula-protozoário é devido a
presença de lectinas e estruturas filopódicas que aumentam a adesão e promovem
a fixação ás células do hospedeiro. Os trofozoítos possuem muitas estruturas
que podem ser utilizados para aumento de sua patogenicidade, entre elas
destacam-se adesinas, e uma alta gama de proteinases que promovem a lise de
células e tecidos, induzindo a apoptose e levando a necrose tecidual das
regiões em que coloniza. Quando a barreira epitelial é rompida, ocorre a
invasão à mucosa, os trofozoítos reproduzem e entram nos tecidos adjacentes com
diminuta reação inflamatória.
Na mucosa e submucosa, as amebas podem progredir em todas
as direções, determinando inicialmente a típica ulceração chamada “botão de
camisa”. Mas ocasionalmente podem atingir o tecido conjuntivo e induzir a uma
resposta inflamatória proliferativa com formação de uma massa granulomatosa,
chamada “ameboma”, que é um tumor benigno do ceco ou do retossigmoide que
diminui a luz do espaço intestinal.
Outra
possibilidade é a penetração no sangue, no qual podem se transportar
através da mesentérica superior, para o
fígado e causar inflamações agudas e abscessos (SANTOS et al., 2011).Nesses
casos, os sintomas aparecem em média três meses após os sintomas
intestinais. Podem também atingir o
pulmão, mais raramente o cérebro e, em certas circunstâncias, a pele e as
regiões anal ou vaginal (NEVES, 2016).
O
período de incubação depende da quantidade de patógeno ingerida e das condições
próprias do hospedeiro, a exemplo da idade, resposta do sistema imunológico, e
outras patologias associadas e pode ser, em média, de uma semana a 4 meses. A
taxa de mortalidade pode ser muito alta se não for medicada.
Existem
duas principais formas clínicas: amebíase intestinal e amebíase extra
intestinal. Podendo evoluir sem sintomatologia ou apresentar sintomas típicos
tais como: disenteria, febre que pode ser moderada ou não acontecer,
leucocitose menor que 10 mil glóbulos brancos por microlitro e evacuações
frequentes (10 vezes ao dia) (CHAVES et al.,2010). Uma das apresentações que
também é comuns é a colite não disentérica com a presença de duas a quatro
evacuações pastosas ou com muco e sangue, alternando com uma constipação, tenesmo e flatulência.
Na
apresentação extra-abdominal o paciente cursa com dor referida ao hipocôndrio
direito, que aumenta ao menor movimento, sendo a intensidade da dor variável,
muito semelhante a uma cólica biliar. A febre apresenta-se frequentemente no
período noturno e pode chegar aos 40°C associada com astenia, calafrios,
suores, náuseas e vômitos. Na forma subaguda da amebíase a perda de peso é o
principal sintoma.
DIAGNÓSTICO
Uma das formas de diagnóstico é a presença de trofozoíto nas fezes. Quando
o diagnóstico é feito dessa maneira não ocorre
diferenciação da E. histolytica, E. dispar e E. moshkovskii. Porém existem outras formas de diagnóstico através da utilização de anticorpos séricos, ultra sonografia, tomografia axial computadorizada para diagnóstico dos abcessos amebianos. Quando se usa técnicas mais específicas, que detectam antígenos ou DNA
específico, a prevalência consequentemente cai consideravelmente, já que a
maioria das pessoas (indivíduos assintomáticos) está infectada por outra ameba
que não a E. histolytica (CHAVES et al.,2010).
No exame físico tem sinais de desidratação e
dor abdominal na fossa ilíaca direita com aumento de ruídos no trato
gastrointestinal. Na fase extra-abdominal apresenta hepatomegalia dolorosa, que
acaba dificultando a palpação. Pelo comprometimento do fígado, pode ocorrer
icterícia. (SILVA et al, 2005).
Durante
as manifestações clínicas ocorre grande perda de água e eletrólitos, por isso
manter a hidratação durante o tratamento é muito importante. Outro fator
importante no tratamento é a identificação dos casos que são a presença de E.
histolytica patogênica, que é a única que se recomenda tratamento. Os fármacos
de escolha nesses casos são o Metronidazol, que está presente no quadro de
medicamento do SUS e Secnidazol, que possui como vantagem ser dado em dose
única para adultos e crianças.
TRATAMENTO
A OMS estabeleceu que o tratamento da amebíase
deverá ser iniciado apenas em casos de confirmação específica de E.
histolytica. A diferenciação do tipo patogênico da dispar é indispensável
para o tratamento com drogas específicas e acompanhamento adequado. O fármaco
de escolha no Brasil é o metronidazol, medicamento de baixo custo oferecido
pelo SUS, mas pode-se utilizar o secnidazol em dose única para adultos e
crianças. Este último é de ação rápida e absorção completa e tendo meia-vida
mais longa que os principais s derivados imidazólicos.
Segundo NEVES (2016) podemos classificar os
medicamentos contra a amebíase 3 grupos distintos: Amebicidas, que atuam
diretamente na luz intestinal, Amebicidas tissulares e Amebicidas que atuam na
luz intestinal e nos tecidos. O primeiro grupo, que atua na luz intestinal, tem
uma ação direta por contato sobre a E. histolytica fixada na parede ou na luz
do intestino. São eles os derivados de quinoleína: iiodohidroxiquinoleina,
iodocloro-hidroxiquinoleina, cloridroxiquinoleína; antibioticos: as
paramocininas e eritromicina; e por fim, outros derivados: furoato de
diloxamina, clorobetarnida e clorofenoxarnida. As de ação tissular, intestino e
fígado, são compostos de cloridrato de emetina, cloridrato de diidroemetina e
cloroquina. Por fim, os que atuam na luz intestinal e tecidos: antibióticos
isolados ou combinados com outros amebicidas: tetraciclinas e seus derivados,
clorotetraciclina e oxitetraciclinas; eritromicina; espirarnicina e
pararnomicina. Derivados imidazólicos: metronidazol ornidazol, nitroimidazol e
seus derivados, secnidazol e tinidazol. São utilizados por via oral como
injetáveis..No caso de portadores assintomáticos ou de colites não
disentéricas, são indicados os medicamentos de ação direta na luz intestinal,
como o teclosan e etofamida,e normalmente repte-se o tratamento. Na amebíase
extra-intestinal, principalmente no abscesso hepático, o metronidazol é a droga
mais indicada, na dosagem de 500 a 800mg três vezes ao dia durante cinco a dez dias.
Deve-se considerar que o tratamento medicamentoso geralmente está associado a
efeitos adversos que variam desde náuseas e dor abdominal até diarréias e
vômitos.
Tabela: Tratamento da amebíase
PROFILAXIA
A E. Histolytica pode ser
transmitida através de alimentos e água que contenham o patógeno e, também por
isso, países em desenvolvimento e que apresentam problemas consideráveis com
saneamento básico apresentam números elevados de casos, justamente devido às
condições sanitárias e deficiências no saneamento. Esse quadro aponta para a
necessidade das medidas profiláticas estarem principalmente voltadas para a
melhoria dessas condições, seja através do tratamento de esgoto, tratamento
adequado da água, educação da população sobre como utilizar a água, fervendo,
por exemplo, higienizar os alimentos, lavagem das mãos e outras medidas de
baixo custo. É importante salientar que a OMS sugere ainda, com o objetivo de
evitar a ingestão de cistos viáveis, lavar bem e ferver todos os alimentos
crus. No caso das verduras, elas devem ser mergulhadas por 15 minutos numa
solução de 0,3g de permanganato de potássio para 10 litros de água ou três
gotas de iodo por litro de água, eliminando os cistos viáveis. Depois desse
procedimento, lavar em água corrente.
REFERÊNCIAS
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<http://www.pensaracademico.facig.edu.br/index.php/semiariocientifico/article/view/412/343>
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